Num semblante de primavera Misto de flores e espinhos Se estendeu por toda a estrada Projetou sombra e aguada Por d'onde cruzo caminhos. Fui dando espaldas pro rancho Cruzei pra lá da cancela Sentei as garras no pingo Busquei a volta do estribo Com a mão canhota na rédea. Na direção do horizonte Meu pingo trocava orelha E a espora dava o comando Pra ele sair tranqueando Riscando-lhe a barrigueira. E o rancho que eu mesmo fiz Nobre e de simples valores Guarda um ar de despedida Virou tapera dormida Aos olhos dos cruzadores. Por gaudério, hoje distante Mateio à sombra dos móleos O pingo livre da cincha Atado à soga relincha Vejo a saudade em seus olhos. Saí para amansar distâncias Com a alma de olhar profundo Pois nasci de alma andeja E desde piá, com certeza Sonhava andar pelo mundo. Mas se por acaso o pingo Relinchar com insistência Desato a soga que o tranca E dou-lhe um tapa na anca Pra que retorne à querência. E sigo cruzando estrada Porque gaudério sou eu Dou um jeito nos arreios A maior riqueza que tenho É esse mundo de deus. Por gaudério, hoje distante Mateio à sombra dos móleos O pingo livre da cincha Atado à soga relincha Vejo a saudade em seus olhos. Saí para amansar distâncias Com a alma de olhar profundo Pois nasci de alma andeja E desde piá, com certeza Sonhava andar pelo mundo.