Não namores os franceses Menina, Lisboa, Portugal é meigo às vezes Mas certas coisas não perdoa Vê-te bem no espelho Desse honrado velho Que o seu belo exemplo atrai Vai, segue o seu leal conselho Não dês desgostos ao teu pai Lisboa não sejas francesa Com toda a certeza Não vais ser feliz Lisboa, que idéia daninha Vaidosa, alfacinha, Casar com Paris Lisboa, tens cá namorados Que dizem, coitados, Com as almas na voz Lisboa, não sejas francesa Tu és portuguesa Tu és só pra nós Olhai, senhores, esta Lisboa d'outras eras, Dos cinco réis, das esperas e das toiradas reais! Das festas, das seculares procissões, Dos populares pregões matinais que já não voltam mais! Lisboa, velha cidade, Cheia de encanto e beleza! Sempre tão formosa a sorrir, E no vestir sempre airosa. O branco véu da saudade Cobre o teu rosto linda princesa! Lisboa Andou de lado em lado Foi ver uma toirada Depois bailou... bebeu... Lisboa Ouviu cantar o fado Rompia a madrugada Quando ela adormeceu Lisboa adormeceu, já se acenderam Mil velas nos altares das colinas Guitarras pouco a pouco emudeceram Cerraram-se as janelas pequeninas Lisboa forme um sono repousado Nos braços voluptuosos do seu Tejo Cobriu-a a colcha azul do céu estrelado E a brisa veio, a medo, dar-lhe um beijo Lá vai Lisboa com a saia cor de mar Cada bairro é um noivo que com ela vai casar! Lá vai Lisboa com seu arquinho e balão, Com cantiguinhas na boca e amor no coração!