Mês de agosto, inverno grande, madrugada É a vez da geada entordilhar a sesmaria Um mate quente aquece a alma e retempera Na eterna espera do clarear do novo dia Só um campeiro talvez possa entender O que vem a ser a magia dessa hora Lá fora o baio relinchando até parece Que conhece o tilintar do par de esporas A hora é santa neste templo que é o galpão E a solidão é a companheira do matear O pensamento mora longe, bem distante Num instante que dá vaza pra o sonhar Um cantar de galo anuncia o alvorecer Que há de ser igual a tantos na querência Mas diferente pra o peão que nesta vida Se fez na lida campereando a existência Aqui na estância tá na hora da pegada E a madrugada já mostrou porque que veio Deixou um sonho extraviado em saudade E uma verdade enforquilhada nos arreios