Venho de um tempo em que as águas das vertentes Deslizavam lentamente fecundando os mananciais Onde as estrelas desciam do firmamento E bailavam com o vento se embalando nos juncais As águas claras eram o espelho da lua Que despudorada e nua se banhava branca e alva Nas noites mornas de um setembro em pleno cio Prateando as águas do rio com ciúme da estrela dalva Venho de um tempo de angazeiros nas barrancas Remansos e areias brancas e garças nos amarilhos Vivo num tempo de enchentes e correntezas Nas águas das incertezas Que vou deixar para os meus filhos Venho de um tempo em que o rio era fecundo E o seu ventre profundo só nas margens dava pé Nas calmarias os olhos do pescador Roubava do céu a cor pra pintar os aguapés Venho de um tempo em que luz da lua cheia Refletida nas areias tinha nuanças de prata Costeando as águas, camboins e araçás Eram palcos pra os sabiás fazerem suas serenatas