A Fêra

A Borda Da Bêra

A Fêra


Toco em cordas de sentimentos
Amarro o tempo num varal
Faço infinito o meu momento
Em terra de doce eu sou o sal

Toco a canção da liberdade
Pra quem tem medo de voar
Pra quem me trai sou a maldade
Buscando Deus pra conversar

Sou carta perdida no meio do baralho
Sou alho
Eu sou a cantiga dum carro de boi
Eu sou do tamanho de um dia de fome
Meu nome
Sou língua felina dizendo quem foi

Sou brabo que nem um cachorro pé-duro
No muro
Sou galo-campina, chofreu, sabiá
Sou arma, sou faca, sou bala, onde eu miro
Eu atiro
Sou medo no olho de quem vai matar

Sou conta de luz perto do vencimento
Sou tempo, sou vento, sou brisa, sou ar
Sou carta perdida, sou carta marcada
Sou mais um sortudo, sou jogo de azar
Sou mito, sou grito, sou rito, sou forte
Sou azar e sorte, eu sou qualquer um
Sou velha cansada catando piolho
Sou olho no olho
Sou velha sorrindo achando mais um

Sou planta crescendo quebrando a calçada
Facada, latada, pé de jerimum
Sou cada minuto da noite sem sono
Sou pano rasgado cobrindo mais um
Eu sou da saudade, o gosto do destino
Traquino menino, trabalho, trator
Eu sou a seresta, a viola e a feira
a borda da beira
Sou luz apagada de quem não pagou.